Você deveria amar a sua bunda grande, sério!

17.9.16 -
O ano de 2006 foi especialmente difícil pra mim. Tinha 14 anos e era acima do peso. Yeap, consideravelmente acima. Era o ano em que eu completaria o primeiro grau e minha mãe tentou o quanto pode me ajudar a emagrecer, pagando uma academia descolada e buffet natureba durante a semana.

Meu pior pesadelo daqueles doze meses tinha nome composto: calça jeans. Vestia leegins e suplex pra tentar camuflar a cintura baixa, que me caía tão mal. Ah, e amarrava casaquetos e blusinhas de manga comprida na cintura, claro. Tudo pra esconder o tamanho GG do meu bumbum. Foram dias complicados.

Na escola, os guris adoravam "brincar" de atolar as meninas, uma babaquice de dar tapinha e sair correndo por aí. Ainda que poucos declarassem amor à minha figura grande demais e chamativa em excesso, era quase sempre a escolhida pra que eles afofassem essa parte tão protuberante do meu corpo.

Os velhos nojentos já se mostravam tarados escrotos, assim como alguns amigos da família pouco disfarçavam olhares desconfortáveis - ainda que tivessem me visto crescer, acreditem. Dez anos se passaram, muitos quilos se foram, uma centena de sessões de terapia me moldou, algumas situações me mostraram que: eu amo a minha bunda grande. De verdade. Com todo o coração.

Ainda hoje, há fases em que meu peso sanfoneia: uma temporada de friaca e já aumentam as curvas. O verão, suas frutas e sucos, suas manguinhas cavadas e macaquinhos e todo os litros de água me ajudam a ficar fininha. Contudo, ela segue ali. Entre o 38 e o 40. Com seus 102, 104, 106 cm de circunferência. Em contraste à minha cintura fininha e com celulite, oras, sim. Redonda e arrebitadinha. Demorei a expressar isso, mas lá vai: amo a minha bunda GRANDE.

Amo jogar ao lado de Kim Kardashian, Iggy Azalea e J.Lo, amo a feminilidade que essa arma - ainda que em formato de escudo - me traz todo santo dia, ao passar creme hidratante. Amo visualizar minha sombra com sinuosidade e perigo. Amo dançar em baladas lotadas e saber que todo o meu protagonismo & força fica na parte de trás; e tem problema nenhum nisso.

Isso significa que detesto o seu derriére menos favorecido? Nunca. Quer dizer, apenas, que olho no espelho e consigo compreender minha genética, não culpar minha mãe, me apaixonar pelas pintinhas impressas pelo sol de janeiro. Que quando perco peso e a vejo murchar, não me reconheço. E que ando maluca pra malhar novamente e a ver cada vez mais pra cima, chamativa e campeã.


Mesmo que ela corte pela metade o tempo de minhas trepadas assim que em cena e emperre em brins durões. Ainda que esse acessório da natureza vulgarize toda e qualquer roupa mais colada e ganhe mais atenção que cabelo, umbigo e clavículas juntos. É amor, real, mensurável e adiposo. Mas ainda assim, um sentimento abundante.

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