Não somos rivais

17.9.16 -
Sororidade, por Elisa Riemer
Em minha - complicada - adolescência, muito me orgulhei da coleção de inimigas que guardava no peito, após o túnel do rancor e ao lado da válvula do ódio. Aquela fulana que tinha pego um boy que eu andava de olho. A outra, fofoqueira, que espalhou por aí um boato que outro. Uma ou duas gurias que os maus entendidos me tiraram a convivência e criaram essa crosta de rivalidade esdrúxula. Se odeio qualquer uma delas? Nem um pouquinho.
Toda vez que rolo a timeline e me encontro com postagens ou comentários de alguma dessas ex-amigas, ex-namoradas de caras que peguei ou conhecidas que afastei, sinto uma fisgada. Muitas delas se parecem comigo: curtem shows estranhos, festas com gente esquisita e lutam pelos direitos humanos. Curtem o mesmo tipo de homem, bebem cervejas de marcas equipares e possivelmente frequentam o mesmo salão. Tanto em comum, tanto ódio quando nos esbarramos em eventos minúsculos rodeados por pessoas que nos ligam: não sei por aí, mas aqui faz zero sentido que isso continue.
Por isso, miga, vem cá. Quero dizer um negócio importante. Não, a gente não está de lados opostos numa guerra onde você é mais magra e eu mais inteligente. Você fica com o boy, e eu com meu orgulho. Eu sou uma amiga mais divertida e você apenas escuta desabafos. Não, nada disso. Sabe, a gente é iguais e anda lado a lado. Na peleia por uma sociedade mais justa e por salários iguais. Contra o patriarcado e também pelos direitos de minas lésbicas, trans, negras e deficientes. Pra sermos melhor tratadas em relacionamentos capengas e pelo fim dos abusivos. Estamos na mesma, guria. Por que, então, mais golpe que abraço?
Faz sentindo nenhum perpetuar umas rusgas de décadas atrás ou menos. Muito melhor ter uma amiga pra somar que uma porção de inimizades sem explicação e pessoas de quem fugir, não acham? Deixa as lembranças ruins atreladas àquele babaca pra trás, se preocupa em estar próxima das outras minas no rolê. Sabe aquela garota que você já machucou, ofendeu ou ignorou no passado? Que tal deixar o orgulho bolso e chamar ela, numa boa, pedir desculpas, propagar a paz? No coletivo, todas saem vencedoras.
#NãoSomosRivais

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