A filha pródiga À casa torna

17.9.16 -

Eu prometi não voltar à Porto Alegre. Parecia feliz a quase mil quilômetros daqui. De fato, tive umas alegrias: boy atrás de boy, emprego na maior editora do país, amigos queridos, um quarto (dois, na verdade) pra chamar de meu. Podia soar como o meu melhor momento, ou a vida ideal da menina de vinte e poucos anos que detesta faculdade, mas adora trampar e escrever. Tava longe de ser.
O único fato true é que a má fase amorosa, a grana sempre curta pra uma São Paulo que me custava os olhos da face e trabalhar cerca de 10h por dia foram esgotando. Voltei a me medicar, passei a caminhar diariamente, sentia saudades da risada infantil da minha irmã e até dos puxões de orelha maternos. Mas como você não é feliz? Fazendo conteúdos que bombam, realizando hangouts, tendo a melhor amiga na rua debaixo? Eu também não sabia explicar. O que aconteceu foi: em novembro, decidi voltar.
O boy que mantinha a distância pode ter ajudado, verdade. Mas, a ideia de uma vida mais fácil me parecia oportuna. Enquanto a maior metrópole brasileira me sugava até a alma, baldeação atrás de baldeação, eu sentia que tornando ao ninho paternal daria pra recomeçar algumas casas à frente. Com o último trabalho no currículo, que agência me menosprezaria? O aluguel por metade do preços, as academias baratíssimas, a ideia de ir e vir de bike de baladas, bares e noitadas na casa de amigos. Enfim, respiraria mais aliviada. Errado.
O que tem pra mim na capital gaúcha? Zero vagas legais pra ganhar uma grana e viver. Um quarto, agora divido com a irmã menor (quem mandou abandonar tudo em 2014, menina Camila?), os pais no ouvido a cada manhã, pressionando pra que eu ache um rumo, um job, um freela, uma vida mais calma. Alguns bons caras que aparecem no caminho, mas me falta sanidade mental - e emocional - pra mantê-los entretidos. Carteira quase sempre vazia. Uma saudade destruidora de ralar o dia todo e chegar em casa exausta, mas fleumática.
A nossa liberdade não tem preço, eu aprendi. Voltar pra casa dos pais é refazer uma barreira que há muito já rompemos e não temos ideia de com o que se constroi. Você sabe? Eu ainda não aprendi - e espero zarpar daqui sem conhecer, admito.

0 comentários:

Postar um comentário